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Memória de Santarém: Hábitos e costumes do povo 6p466o

Lúcio Flávio Pinto - 06/11/2022

Região do Lago Grande, em Santarém - Créditos: Arquivo/Portal OESTADONET

Entre 1975 e 1976 enchi um grosso caderno com anotações extraídas dos arquivos do MEB, o Movimento de Educação de Base da Prelazia de Santarém, aos quais fiz consultas nesse período, mais extensas do que nas primeiras abordagens, entre 1971 e 1972. Esse acervo, que imagino deva ter-se perdido ao longo do tempo, reflete a vida do habitante do interior, que era o alvo das aulas transmitidas através da Rádio Rural (ou Educadora).


As respostas dos alunos aos professores, dadas através de várias maneiras (exercícios, poesias, relatos, desenhos), constituem um precioso documentário do seu modo de ser e fazer. Selecionei algumas das mais sugestivas manifestações, que irei publicando conforme a oportunidade. É uma autêntica história popular do “sertão” - e também da periferia urbana de Santarém. Imagens do cotidiano fixadas com espontaneidade e autenticidade, que podem contribuir para entender a mentalidade do povo.


Com base nas leituras dos documentos, concluí, na época, que havia duas atitudes distintas entre o caboclo que mora nos “centros” (no meio rural) e o caboclo dos bairros pobres de Santarém. Aquele é o produtor e se comporta como tal: se submete às exigências dos compradores dos seus produtos, principalmente por não ser organizado e agir individualmente, sem se unir aos outros produtores. Mesmo assim, tem consciência de ser explorado, o que mantém uma revolta latente no seu ânimo, capaz de explodir quando provocada. Já o caboclo da cidade age como consumidor, ainda mais individualista. Perdeu a identidade rural e não adquiriu a consciência urban a.
 

Segue-se uma seleção dos “causos” relatados e de informações sobre as comunidades.


Um dia na roça (no Igarapé do Pimenta)


O caboclo levanta bem cedo, prepara o café e vai imediatamente para o roçado, ainda molhado de orvalho. Começa então a apanhar feijão e, à medida que o sol vai esquentando, começa a dar coceira. Ao meio-dia vai almoçar. Quando volta para o roçado o sol está ainda mais quente. Continua a apanhar feijão até as 5 da tarde. Chegando em casa, toma banho e vai para a escola radiofônica.


Uma aula do MEB


“Os colonos não progridem porque não põem em conta seus dias de serviço. Dizem: o trabalho é meu, por isso não vou anotar nada. Fazem roçado, plantam, colhem. Se se perguntar quantos cruzeiros gastaram, dizem mais ou menos 50 mil cruzeiros. Calculam por alto e no fim do ano saldam uma mixaria.  Ficam alegres com aquela mínima quantia sem terem certeza se tiveram lucro ou não”.


Bairro do Caranazal


Bairro muito pobre que se desenvolveu num barracão, onde era celebrada a missa. Começaram a arranjar dinheiro para construir uma igreja. Origem do nome: por ficar próximo a um igarapé com muito caranã [capim].


Um dia na vida de Raimunda Odeise Cruz (Caranazal)


Hoje eu ia para o banho no igarapé, encontrei várias pessoas ao chegar ao igarapé. Tinha um rapazinho. Eu não gostando de certas saliências, tomei meu banho e voltei para casa. No caminho encontrei três moleques, onde um deles me jogou terra. Eu não conhecendo o mesmo, chamei-o de audacioso e dei-lhe uma lição de moral e segui para casa, irada de raiva.


Lenda do Boto


Os dois botos que vão dançar bebem muito. Mas a casa ficava longe do rio e havia apenas um poço. Nele se jogaram. De manhã, o pessoal viu os dois botos e ficou irado. Mataram os animais e partiram as cabeças. Então exalou o cheiro de cachaça.


Descrição da Comunidade de Aramanaí


Os primeiros moradores já não existem mais. Em agosto de 1971 tinham 60 casas de família. Tem uma igreja, seis casas de comércio, um grupo escolar (primário completo). A maioria dos trabalhadores trabalha em seringa, outros em roça, como mandioca, arroz, feijão e milho. Uma escola radiofônica e uma de alfabetização. Uma sede esportiva.


Definição da estrada


- A Transamazônica é uma companhia com o fim de preparar uma estrada de Altamira a Cuiabá.


Comunidade de Vila Goreth


Fundada em 10 de maio de 1957 por frei Otimar. As duas famílias que moravam então no local se retiraram depois para Santarém. Vieram moradores de outros locais. Mas o crescimento populacional é irregular.

 

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