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Memória de Santarém: Primeira visita de Getúlio Vargas a Santarém 6i4m2l

Lúcio Flávio Pinto - 22/05/2022

Vargas em visita à Catedral de Nossa Senhora da Conceição - Créditos: Foto do acervo familiar de Miguel A. L. Reça.

A praça Monsenhor José Gregório estava lotada quando, às 11 horas da manhã de 14 de outubro de 1940, o primeiro dos dois hidroaviões da Panair que pousariam nas águas do Tapajós estacionou no flutuante da empresa, bem em frente à igreja-matriz de Nossa Senhora da Conceição. Dele desceu o presidente Getúlio Vargas, à frente de uma numerosa comitiva. Depois dos cumprimentos das autoridades locais, o chefe do Estado Novo recebeu uma corbeille de flores que lhe foi entregue pela estudante Aida da Cunha Faria, da Escola Normal.


Todos visitaram a catedral, irando o crucifixo doado pelo naturalista alemão Von Martius no século XIX. Seguiram para a prefeitura, onde ouviram algumas exposições sobre os problemas locais, por parte do prefeito Mário de Freitas Guimarães e do juiz da comarca, Climério Mendonça, e inauguraram uma placa saudando “o grande amigo da Amazônia”. Poucos minutos depois a comitiva seguiu viagem para Manaus.

 

Vargas voltaria a Santarém exatamente 10 anos depois, na campanha para se eleger presidente da república pelo voto direto e não mais, como na primeira vez, como chefe de um governo ditatorial, o Estado Novo.

 

Pode ser uma imagem de uma ou mais pessoas, pessoas em pé e aeronave

 

Registro fotográfico da visita do presidente Getúlio Vargas a Santarém (PA), em 14 de outubro de 1940, pelo Consolidated Commodore 16-1 da Panair do Brasil, que amerissou no Rio Tapajós, defronte à Praça da Matriz.

 

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Notas do Editor:

 

O historiado Ademar Amaral fez o seguinte registro da presença de Getúlio Vargas a Santarém:

 

Essa visita do Dr. Getúlio a Santarém está descrita com detalhes no meu último livro, Sementes do Sol. O avião era um Comodoro, da Panam, e o atracadouro ainda não era o da Panair, pois essa empresa só inaugurou sua linha na Amazônias(com os Catalinas), logo após a segunda grande guerra.Chama atenção, na foto, a quantidade de padres franciscanos alemães que foram receber o ditador na praia, em frente à igreja matriz da Conceição.O Brasil vivia o auge do Estado Novo e Getúlio ainda andava de braços e beijos com a Alemanha de Hitler, chegando a mandar um telegrama de felicitações ao colega ditador alemão, quando este tomou Paris. Depois, acuado pelo tenentismo, Getúlio tratou de aderir aos aliados para não perder a cabeça, mas logo depois da guerra foi deposto. Houve outra visita de Getúlio a Santarém durante a campanha política para presidente, em 1950, quando ele prometeu a Tecejuta ao povo do Baixo Amazonas, numa manobra muito inteligente do político Elias Pinto. A promessa aconteceu num discurso, na Praça Monsenhor José Gregório, o qual,com todas as vírgulas, também consta do meu livro.

 

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A visita do presidente Getúlio Vargas aos domínios da Empresa Ford

 

 
Trecho retirado do Jornal impresso “Correio Paulistano”, do dia 10 de outubro de 1940.
 
 
 
BELTERRA, 9 (A.N.) – O Sr. Presidente Getulio Vargas deixou o aeroporto de Belém, às 8 horas, em meio de um ambiente da mais alta vibração, tendo recebido nova e entusiástica manifestação, por parte das altas autoridades civis e militares e grande número de amigos que o foram cumprimentar. O Chefe da Nação tomou lugar a bordo do “Comodoro” juntamente com o general Edgard Facó, comandante da 8 região, ministro João Alberto, Sr. Luis Vergara, coronéis Benjamim Vargas e Jesuíno de Albuquerque, capitães Manuel dos Anjos e F. Mattos Vanique.
 
Dentro de poucos minutos, após rápida manobra de decolagem, a aeronave presidencial ganhava novos céus dentro da manhã rutilante de cores. Agora, o Sr. Presidente Getúlio Vargas desprendia-se do último centro urbano, onde ainda se fazia sentir a influência cosmopolita na sua natural posição de porto através do qual transitam estrangeiros que demandam ou precedem dos Estados Unidos. Entrava, assim, em plena civilização autóctone, demandando caminhos desconhecidos até agora, virgem dos actos e dos os de qualquer Chefe de Estado. Mas o sacrifício do supremo mandatário da Nação, fazendo uma viagem duríssima e aproveitando todas as horas disponíveis nos pontos visitados, numa atividade sem descanso, recebia, agora, larga recompensa nesse verdadeiro baile nupcial da floresta sumptosas, em cujo seio palpita a riqueza nacional, tão alto fala ao seu espírito inteiramente devotado nos interesses superiores de sua pátria.

 
A sua viagem não permite um lento e minucioso contato com essas maravilhosas paragens da terra brasileira. Uma simples visão panorâmica, porém, permitia que o raciocínio do viajante se perdesse em conjecturas fantásticas sobre obras mais fantásticas, ainda que, apesar disso, não conseguiram nunca fugir à influencia do próprio meio que as inspiram.

Aqui as manifestações dos phenomenos de Flash Gordon não dariam, aos creadores do heroe, dificuldades ou trabalhos de imaginação. Bastaria que colocassem em letras de forma os desnorteantes caprichos da natureza. Daí não se estranhar que o fabuloso mundo amazônico tenha inspirado a Raul Bopp, o seu poema “Cobra Norato”, lenda cheia de beleza, de mysterio e de tragédia, de romance. Suponha o leitor, por exemplo, que curiosa symbiose representa o encontro de dois rios mantendo cada qual sua própria cor como sendo, no mesmo leito, um rio de azeite e um rio de vinagre. Pois sem mais nem menos é o que acontece entre o Tapajós e o Amazonas, fazendo-o recuar para a própria foz na altura de Santarém. O repórter teve cuidado de expor primeiro todas essas originalidades do cenário, porque o entrar no terreno dos fatos esta simples noticia poderia causar mais fundas impressões no espírito do leitor: - O Sr. Presidente Getulio Vargas assumiu, hoje, o comando do avião em que viaja. Logo após a partida de Gurupá, onde o “Comodoro”pousara para reabastecimento, o Chefe da Nação ou a pilotar a aeronave, conduzindo-a por centenas de kilometros e só abandonando a direção do aparelho minutos antes da amerissagem em Belterra.

O Sr. Presidente Getúlio Vargas não se cansa de surpreender, tanto a massa com a qual se identificou profundamente, como até aos seus próprios amigos. Ainda na véspera de deixar Belém, agradecendo a uma manifestação do operariado pronuncia, de improviso, um dos seus mais interessantes discursos, dirigindo-se ao caboclo amazônico, duas vezes maltratado, pelas endemias e pela falta de meios com que se defender da ganância dos ambiciosos. E o Presidente da República atacou a questão por dois lados objetivos: a distribuição da terra aos caboclos e o saneamento da região. E agora, de súbito, a a mão na direção do hydro e assume o seu comando como quem quer ter, realmente, um visada perfeita sobre a região.

 
NAS TERRAS DA EMPRESA FORD
 

BELTERRA, 9 (A.N) – Desde uma hora da tarde de ontem, o Presidente Getúlio Vargas esteve, até a manhã de hoje, nas terras da empresa Ford, que constituem esta região. Aqui, as plantações de seringais contam cerca de dois milhões de pés racionalmente plantados numa área de um milhão e duzentos mil acres que sofre o trabalho ativo da pesquisa e da experimentação científica.

Belterra ou, melhor, a Bela Terra, pertence ao município de Santarém e é, verdadeiramente, um campo de experimentação e de cultura racional. Cerca de sete mil almas que vivem, inclusive nada menos de dois mil e quinhentos trabalhadores. Tem hospital, grupos escolares, cinema, outras diversões, luz própria e a água, mesmo a que serve aos viveiros, é filtrada.

O Presidente Getulio Vargas, vindo a Amazonia, desejou conhecer esse esforço industrial que faz inverter, na região de Belterra, grandes capitães americanos, como já se inverteu na Fordlândia, distante desta região cerca de doze horas de viagem em lancha.

As culturas dessa região estão divididas em quatro grandes centros, todos servidos de estrada de rodagem. Os operários possuem casa de esteira para melhorar os efeitos do calor. E um espetáculo interessante ver-se ao longo da avenida as casas dos trabalhadores cada uma com o seu jardim. Todos os recursos são dados aos operários, gratuitamente, pela companhia exploradora dos seringais que, explicando tal procedimento, salienta que o operário bem tratado e com conforto produz mais e melhor.

O Presidente Getulio Vargas, após o almoço, em companhia do Sr. Enri Bramnstein, representante da Companhia Ford e de sua comitiva, percorreu toda a cidade agro-comercial e os seus serviços sociais. O hospital, como de hábito, foi um dos pontos mais demoradamente examinados pelo Chefe de Governo, que conversou com vários enfermos, conformando-os com a sua presença e a sua palavra. Interessando-se pelo sistema de plantações, o Presidente Getulio Vargas colheu todos os detalhes do método adaptado. A plantação nativa produz apenas cinco por cento, ao o que o aproveitamento da cultura racional é completo. O Presidente assistiu a duas interessantes demonstrações enxertia: a primeira de uma árvore, para que possa produzir mais e melhor e a segunda de folhas, para acaulear-as melhor do tempo e das moléstias.

O representante da Companhia Ford, reunindo no campo experimental todos os trabalhadores em manifestação no Chefe do Governo, fez-lhe uma saudação, em homenagem ao “primeiro Chefe do Estado do Brasil que, deixando suas comodidades, vem a região amazônica apreciar de perto as suas necessidades”.
 
A seguir, o Chefe do Governo inaugurou uma praça de esportes para os trabalhadores de Belterra, encerrando a sua visita.
 
 
 
 
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