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De Chicago para a América do Sul: Papa Leão XIV e Dom Tiago Ryan, os missionários 544x4x

Série dedicada à preservação dos arquivos materiais e imateriais de Santarém, estado do Pará, revela nuances da política, da sociedade e da economia, nos séculos XIX e XX

Editor: Lúcio Flávio Pinto - Redator substituto: Miguel Oliveira - 11/05/2025

No sentido horário: Tiago ordenado bispo, e padre em Chicago; Robert Francis Prevost, ainda padre, e atualmente, sumo pontíficie; Tiago quando bispo de Santarém, e Papa Leão XIV quando era bispo de Chiclayo(Peru) - Créditos: Montagem/Arquivo/Blog Sidney Canto

 

 

 

Quando o cardeal Robert Francis Prevost, o Papa Leão XIV, escolhido no dia 8 de maio de 2025 para comandar a Igreja Católica tinha apenas 11 anos, Dom Tiago, nascido James Michael Ryan, se tornou Bispo de Santarém, em 1958, quinze anos após chegar ao vale amazônico, na América do Sul. Leão XIV e dom Tiago nasceram em Chicago, Estados Unidos, e lá foram ordenados padres. O saudoso bispo de Santarém, em 1934, e o novo papa, em 1982. Mas apesar da distância temporal de vida sacerdotal, o despojamento missionário de ambos se entrelaçam na assistência espiritual aos moradores de longínquas comunidades sulamericanas. .

 

Por isso, a fumaça branca que saiu da chaminé da Capela Sistina nesta semana não trouxe apenas um novo líder à Igreja Católica, mas reacendeu, em Santarém, no coração da Amazônia brasileira, lembranças profundas e emocionadas de um ado missionário que marcou gerações. A escolha do cardeal Robert Francis Prevost como o novo Papa Leão XIV ativou, entre os fiéis da região, uma poderosa memória afetiva: a de Dom Tiago Ryan, o inesquecível “missionário da Amazônia”.

 

Prevost e Ryan são norte-americanos, nascidos na região sul de Chicago, Illinois. Ambos ingressaram ainda jovens na vida religiosa. E ambos também dedicaram décadas de suas vidas à evangelização em países sul-americanos — Prevost no Peru, Ryan no Brasil. Eles foram missionários que trocaram o conforto do primeiro mundo pelos desafios de servir em territórios marcados por desigualdades, culturas diversas e profundas necessidades espirituais e sociais. E agora, com a ascensão de Leão XIV, esses dois caminhos que se cruzam na fé ganham um novo significado.

 

Dom Tiago Ryan nasceu em 17 de novembro de 1912, em um bairro irlandês da zona sul de Chicago. Ingressou na Ordem dos Frades Menores aos 19 anos e foi ordenado padre em 1938. Cinco anos depois, em 1943, ele desembarcava pela primeira vez na floresta amazônica, como missionário na então Prelazia de Santarém. Desde então, dedicou quase 60 anos de sua vida à evangelização e à promoção social na Amazônia.

 

Enfrentando as distâncias colossais da região de barco ou a pé, Dom Tiago construiu igrejas, fundou escolas e rádios comunitárias, acolheu os mais humildes e defendeu os direitos das populações tradicionais, mesmo em tempos sombrios da ditadura militar. Carismático, simples e bem-humorado, tornou-se uma lenda viva em Santarém. Foi nomeado bispo diocesano em 1979 e permaneceu até 1985, quando se tornou bispo emérito. Faleceu em 2002, em Chicago, mas como desejava, foi sepultado na Catedral de Nossa Senhora da Conceição, junto ao povo que tanto amou.

 

Já Robert Francis Prevost, agora Papa Leão XIV, nasceu em 14 de setembro de 1955, também em Chicago, em bairro ao sul da cidade. Filho de mãe espanhola e pai americano, entrou na Ordem de Santo Agostinho em 1977 e foi ordenado padre em 1982. Pouco depois, partiu como missionário para o Peru, país que mais tarde o acolheria também como cidadão. Lá, dedicou-se à evangelização, ao diálogo intercultural e à formação de novos padres.

 

Em 2015, foi nomeado bispo da Diocese de Chiclayo, no noroeste peruano, onde ganhou respeito e iração por seu trabalho pastoral. Em 2023, foi chamado pelo Papa Francisco para assumir o Dicastério para os Bispos no Vaticano e, no mesmo ano, tornou-se cardeal. Agora, em 2025, é eleito Papa — o primeiro americano e, de certa forma, também latino-americano a ocupar o trono de Pedro.

 

A coincidência de trajetórias entre Prevost e Ryan comove especialmente os católicos de Santarém, que veem em Leão XIV um “espelho” moderno do que Dom Tiago representou no século ado. Dois filhos da mesma cidade americana que ouviram o mesmo chamado: deixar tudo para servir aos povos da América Latina com humildade, coragem e fé.

 

Se para o mundo, o Papa Leão XIV representa uma nova era para a Igreja, para o povo de Santarém, ele também representa um reencontro com a memória de Dom Tiago — um lembrete de que os caminhos de Deus, mesmo em tempos diferentes, continuam cruzando fronteiras e corações.

 

E que o novo papa inspire o mundo como Dom Tiago inspirou a Amazônia.

 




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