Ex-deputado elogiado por suposta liberação de mais de R$ 100 milhões em emendas para Santarém só foi autor de 10% dessa verba 5t723j
Chapadinha divulga e induz vereadores a erro sobre montante de emendas destinado a Santarém; até verba para o cais foi contabilizada, mas o deputado federal José Priante desmente que tenha sido de emenda parlamentar -
Créditos: Montagem/Arquivo
O ex-deputado federal Francisco Chapadinha foi exaltado em sessão da Câmara Municipal de Santarém, no oeste do Pará, no último dia 12 de fevereiro, por sua suposta articulação na liberação de mais de R$ 100 milhões em emendas para o município de Santarém. A verdade, no entanto, é bem diferente. O ex-parlamentar só destinou 13 milhões de reais em quatro anos de mandato, uma média anual de pouco mais de R$ 3 milhões.
A maior parte desses recursos no valor de mais de 100 milhões de reais, mencionados por vereadores, na verdade, veio diretamente do orçamento federal, sem qualquer interferência do ex-deputado, que usou essa informação em material de divulgação de seu mandato.
Um exemplo claro é a verba de R$ 75 milhões, enviada pelo Ministério do Desenvolvimento Regional para a Prefeitura de Santarém, destinada à ampliação do cais. Essa bolada não teve nenhuma emenda parlamentar, mas sim a articulação dos deputados federais José Priante e Elcione Barbalho junto ao então ministro Helder Barbalho, para a ampliação do cais de arrimo da orla de Santarém, obra concluída na gestão do então prefeito Nélio Aguiar.
O próprio deputado Priante foi categórico ao afirmar ao Portal OESTADONET: "Essa verba nunca foi de emenda parlamentar, nem individual, nem de bancada. É recurso do orçamento do governo."
Os vereadores Andreo Rasera (PL), Elielton Lira (PDT), Alexandre Maduro(MDB) e Alba Leal (MDB) atribuiram ao ex-parlamentar a liberação de cifras milionárias para infraestrutura, saúde e educação em Santarém. Mas uma apuração do Portal OESTADONET desmonta essa narrativa: Chapadinha só foi responsável por cerca de 10% desse valor, de acordo com documentos da Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização, que detalham a execução orçamentária das emendas impositivas à Lei Orçamentária Anual.
Os vereadores, no entanto, omitiram uma informação importante a respeito mandado do ex-deputado federal Chapadinha: o aluguel de um imóvel do próprio genro para pagamento com dinheiro de sua cota parlamentar.
No dia 9 de janeiro de 2019, a então procuradora-geral da república, Raquel Dodge pediu ao Supremo para investigar o deputado Francisco Chapadinha (Podemos-PA) por uso de verba da Câmara para alugar um imóvel de seu genro. A Procuradoria Geral da República suspeita de desvio — por mês, o parlamentar pagava R$ 4,2 mil para instalar no imóvel seu escritório político em Santarém. O órgão diz que o valor é superfaturado, já que existem casas próximas alugadas por menos de R$ 2 mil e que o local parece incompatível com a atividade parlamentar.
Pegando carona
Ainda assim, os vereadores insistiram em inflar os números. Elielton Lira declarou que Chapadinha teria direcionado mais de R$ 102 milhões para Santarém e que isso seria “comprovado por documentos”. Só que a realidade financeira conta outra história.
Os números reais das emendas garantidas pelo ex-deputado são bem mais modestos:
Em 2016 – R$ 4,8 milhões, em 2017 – R$ 4,7 milhões, 2018 – R$ 2 milhões e em 2019 – R$ 1,5 milhão, num total de 13 mihões de reais em quatro anos de mandato. Ou seja, praticamente 10% dos R$ 100 milhões alardeados.
Mesmo diante das evidências, os vereadores seguiram defendendo Chapadinha. Andreo Rasera citou a Unidade Básica de Saúde (UBS) no bairro Aparecida como uma conquista do ex-deputado. Alba Leal, por sua vez, afirmou que Chapadinha teria alocado mais de R$ 7 milhões para o Hospital Municipal, lamentando a falta de reconhecimento. Já Elielton Lira insistiu: "Chapadinha foi mal compreendido pela sociedade e não teve a devida evidência pelo que trouxe para a cidade."