Gov cop 30


Organizações criminosas avançam no Pará 2c15i

Guilherme Carvalho - Doutor em Ciência do Desenvolvimento Socioambiental, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos - UFPA - 27/11/2024

Ação policial apreende 16 fuzis dentro de embarcação no Pará - Créditos: Foto: Reprodução / PC-PA

 

 

 

No dia 5 de novembro as polícias Militar e Civil do Pará apreenderam um carregamento de armas pesadas no município de Abaetetuba, localizado na mesorregião Nordeste Paraense, a cerca de 123 km da capital, vindas provavelmente do Suriname para abastecer grupos criminosos que atuam no estado.

 

Foi a maior apreensão de fuzis realizadas em solo paraense: 16 fuzis, sendo 13 calibre 556 e 3 calibre 762. Em agosto, a Polícia Rodoviária Federal apreendeu 75 kg de cocaína que seguiam rumo a São Luís, no Maranhão. Em outubro foram 50 kg de cocaína apreendidas em Abaetetuba.

 

Por sua vez, em abril deste ano a Polícia Federal realizou ações em sete estados brasileiros contra grupos criminosos especializados no envio de cocaína para a África e Europa, utilizando-se de barcos pesqueiros para tal empreitada. No Pará, a ação desenrolou-se em seis municípios: Vigia, Curuçá, Abaetetuba, Ananindeua, Belém e Altamira. Com exceção da capital, os demais são pequenos e médios municípios.

 

Apreensão de armamentos em Abaetetuba

 

O fato é que os grupos criminosos com fortes vinculações internacionais estão não somente disputando os grandes centros urbanos amazônicos, como Belém e Manaus, mas também pequenos e médios municípios, estrategicamente localizados ao longo do rio Amazonas e seus afluentes. O Pará e o Amapá são importantes nessa disputa entre os cartéis por suas proximidades com o Oceano Atlântico.

 

Pequenos municípios até então pacatos agora são atravessados por conflitos entre gangues. Eles controlam vicinais e ramais, a circulação de pessoas e carros nas comunidades, impõem toque de recolher e a lei do silêncio, e interferem nas eleições. Além disso, ameaçam lideranças comunitárias e suas organizações.

 

Amazônia na rota internacional

 

Povos indígenas e comunidades tradicionais enfrentam as pressões de narcotraficantes de uma forma nunca antes vista. Isto porque tais grupos apresentam-se cada vez mais organizados e articulados, desde os territórios até o plano internacional. Hoje, há muitos casos de jovens indígenas, quilombolas e outros envolvidos(as) com o crime organizado e mesmo sendo assassinados(as) por conta de dívidas com o tráfico.

 

Quando tais grupos se instalam numa comunidade e/ou território os modos de vida alteram-se radicalmente. O medo se impõe. Até mesmo as lutas de resistência em defesa dos territórios coletivos/comunitários sofrem baixa significativa. A divisão nas bases é estimulada e acentuada.

 

Um dos grandes legados do governo Bolsonaro foi ter contribuído para alçar o crime organizado existente na região a um outro patamar. Agora, presenciamos verdadeiros consórcios do crime juntando narcotraficantes, contrabandistas, milicianos, grileiros, garimpeiros ilegais, desmatadores e outros. Financiamentos cruzados fortalecem as redes criminosas, implementam/utilizam logísticas e rotas comuns, constituem redes de proteção com diferentes segmentos do aparato estatal.

 

Ou seja, a defesa dos direitos sociais e territoriais de povos indígenas e de comunidades tradicionais tornou-se ainda mais complexa e estes segmentos encontram dificuldades para defenderem-se adequadamente do crime organizado. Aliado a isso, os Clubes de Tiro espalhados pela região podem estar servindo de base para o treinamento de criminosos.

 

Se já não bastasse a ação dos mercadores do clima e suas propostas de bioeconomia, mercado de carbono e outras mercantilizadoras da vida, as/os guardiãs(ões) das florestas, das águas, enfim, dos bens comuns, ainda têm que lidar com esse novo e tenebroso cenário, mas pouco ou nada se vê sobre tal questão nos debates sobre a COP-30, por exemplo.

 

A defesa da Pan Amazônia, de seus povos e dos modos de vida ancestrais aqui presentes também a pelo resoluto enfrentamento dos consórcios do crime. Até mesmo porque tais consórcios são funcionais à livre ação destruidora do grande capital, dos conglomerados econômico-financeiros nacionais e transnacionais. Afinal de contas, a história do capitalismo é ela própria a história contínua do cometimento de crimes.




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