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Memória de Santarém: O feitiço das santarenas (1) 3x3665

Lúcio Flávio Pinto - 14/01/2024

Paulo Rodrigues dos Santos - Créditos: Arquivo /ICBS


Em fevereiro de 1966, Paulo Rodrigues dos Santos decidiu provar, em duas crônicas maravilhosas publicadas em O Jornal de Santarém, que merecia o pseudônimo de João do Garimpo, com o qual assinava a coluna “Garimpando pelo ado”. Recorreu à memória e aos apontamentos, ao que ouviu dizer e ao que sabia de fato, para provar que a sedução da mulher santarena era um fato e que esse poder se devia não a feitiçarias e mandingas, mas à beleza exterior e interior das filhas da Pérola do Tapajós


Na primeira crônica tratou de desautorizar as versões maliciosas sobre esse poder de enfeitiçamento. Na segunda, balançou sua bateia de garimpeiro para coletar “alguns nomes de maiores entre os ilustres ‘enfeitiçados’ pelas moças santarenenses”, expressão que colocou entre aspas por não possuir “sentido pejorativo”. A listagem vale como um bem-humorado índice para pesquisa sobre a formação das famílias santarenas entre os séculos XIX e XX.


A segunda crônica foi modificada apenas para que cada personagem ganhasse seu próprio parágrafo. No texto original havia um único parágrafo, que dificultava um pouco a leitura.


Devemos renovar nossa gratidão a Paulo Rodrigues dos Santos, que manteve viva a memória da cidade, inclusive para detalhes que uma pessoa menos sensível não perceberia.


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Houve tempo em que as moças de Santarém sofriam atroz difamação por parte das suas irmãs de outras terras: eram feiticeiras! Sabiam preparar puçangas e mandingas para prender os rapazes solteiros que aqui chegavam, sobretudo se traziam um DR na frente do nome. Mesmo que estivessem comprometidos ou noivos com moças de outras localidades, dentro de poucos dias de residência em Santarém rompiam os compromissos, desfaziam o noivado antigo e...casavam com a mocoronga!...

 

A feia fama correu mundo e chegou longe.

 

Mas essa insinuação caluniosa não ava de mero despeito, de ciúmes ou de raiva das dulcinéas desprezadas.

 

Que culpa cabia às jovens tapajoenses se eram mais bonitas, mais simpáticas, mais atraentes do que suas rivais de outras plagas?

 

Não era através de feitiços, de mandigas, de olhos de boto, de uirapurus, de banhos de cheiro, de pega-não me larga e outras bobagens, que as nossas patrícias seduziam os doutores, juízes, advogados, médicos, promotores, engenheiros, militares, escritores, jornalistas, poetas, etc. etc. que chegavam a Santarém e aqui... largavam o ferro!

 

O feitiço estava nos seus olhos, fossem eles pretos, castanhos, azuis, amarelos, verdes, mas sempre meigos, sonhadores, promesseiros; na fala macia e doce; na ternura dos gestos verdadeiramente femini...

 

Esse o feitiço, essa a mandinga das nossas conterrâneas, de ontem e de hoje, apesar dalgum exótico modernismo que pretende pervertê-las...

 

 

 

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