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Memória de Santarém: O comércio de carne humana(1923) 27253z

Lúcio Flávio Pinto - 24/09/2023

Mapa da época com as descrições do Lago Grande do Curuai -

A Cidade (1923).

 

O “Grand Monde” santareno


A Vida na Sociedade era a coluna social do jornal A Cidade. Em fevereiro de 1923, ela registrava os aniversários dos colunáveis de então no seu estilo repleto de adjetivações mimosas, entre o barroco e o gongórico, cobrindo de elogios suntuosos os seus personagens.


 O aniversário do jovem Alcides Campos “transfluiu”. A “gentil senhorita”, cunhada de Borges Leal, era “ornamento de valor em nossa sociedade”. Relacionada com a “nata da sociedade”, no seu “aniversário natalício” recebeu “inúmeras felicitações”.


José Eduardo, filho do casal Secundino Pinto Guimarães, mesmo fazendo apenas seu primeiro ano já era “interessante menino”.


Esta nota revela uma dinastia santarena: “Procedente da Europa, chegou hoje no ‘Moacyr’ o sr. José Maria Miléo, antigo comerciante e proprietário neste município e pai dos srs. João B. Miléo, comerciante nesta praça, e dr. Francisco Miléo, competente clínico nesta cidade”.


Foi notícia a solicitação em casamento, feita por Isaac Serruya, para Abraham Isaac Benassuly, guarda-livros da firma Ferreira Costa & Serruya, da “gentil srta.” Clara Serruya, filha de Jacob Serruya e Alzira Serruya, “O pedido foi bem aceito pelos pais da nubente”.
 

Sesmaria no Lago Grande
 

Os herdeiros de Maximino Rodrigues Vianna iniciavam a discriminação da sorte de terras denominada Santo Amaro, com base m um título de sesmaria, no Lago Grande de Franca. A área, com400 braças de frente e 80 de fundos, se limitava com terras de Boaventura Ambrósio do Espírito Santo e Virgília Carmelino Fróes.

 



Campo baixo no Lago Grande de Villa Franca. Cavalos atravessando uma lagoa que sobrou da cheia do ano, em 1926

 

 

O comércio de carne humana
 

Notícia de A Cidade mostra, no estilo da época, que o problema é antigo:
 

À tarde de domingo, quando pretendia fazer embarcar no ‘Sapucaia’ uma chusma de mocinhas desta cidade, com o fito, afirma-se, de coloca-las em Manaus, foi preso pela polícia o comprador de porcos José Rodrigues dos Santos, que de vez em vez por aqui aparece.


Segundo ouvimos, José Rodrigues é useiro e vezeiro no emprego desse mister de agenciador de donzelas, o que faz com o intuito de ganhar dinheiro, mas, disse ele, com a melhor das intenções, pois as moças são empregadas em casa de uma senhora...


Ainda mesmo que seja crível a afirmação do porqueiro, não tem ele bastante putabilidade para que se lhe confiem donzelas inexperientes sem conhecimentos em Manaus, onde certamente não teriam bom fim.


Mas o que mais ira e causa espécie é terem os pais e responsáveis pelas mocinhas consentido que elas embarcassem – pois chegaram a embarcar – na companhia exclusiva dum indivíduo desconhecido e sem posição que o recomende.


A polícia andou bem em sustando o embarque dessas moças que, embora pobres, aqui têm vivido honestamente.


Mas que guia, o José Rodrigues! ar de porcos a donzelas...


Já é ter gosto.

 

 

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