Elias Pinto, jornalista e1c46
Elias Pinto, em fotografia de 1980 -
Créditos: Arquivo/ICBS
Quatro dos oito filhos de Elias Ribeiro Pinto se tornaram jornalistas, o que não é pouco em uma única família. Faço a ligação apenas com meu pai porque minha mãe, embora essencial à nossa formação, sufocando uma tendência autodestrutiva latente em alguns de nós e nos inspirando humanidade e simplicidade, e nos estimulando a ler (ela lia bastante), não teve ligação direta com a nossa vocação para o jornalismo. Ela se deve a papai.
Ele cursou a escola regular apenas até o 3º ano primário (o ensino fundamental de hoje), mas tinha curiosidade e vivacidade intelectual incomuns. Adolescente, foi fotógrafo, professor de inglês e autor de uma façanha em Santarém: foi o primeiro locutor esportivo, transmitindo – para a Rádio Clube de Santarém, ZYR-9 – o clássico do futebol local, entre São Francisco e São Raimundo (a indicar a fortíssima influência religiosa). Em 1948, aos 23 anos, se tornou o redator-secretário do semanário O Jornal de Santarém, fundado em 1943, a publicação de mais extensa duração na história da imprensa santarena (e talvez de todo interior do Pará).
Quatro anos depois, em 1952, papai lançou seu próprio jornal. O Baixo Amazonas, “semanário noticioso e independente”, conforme se definia no cabeçalho, começou a circular, semanalmente, em 17 de maio de 1952. Era de propriedade da Gráfica Baixo-Amazonas Ltda.
Com quatro páginas em formato europeu, um pouco maior do que o tabloide, o jornal tinha Elias Pinto como diretor, Silvério Sirotheau Correa como redator e Ambrósio Caetano Correa como gerente. Entre os seus colaboradores estavam alguns dos principais intelectuais santarenos: Emir Bemerguy, Wilson Fona, Arinos Fonseca, Wilson Fonseca.
Sua sede, que abrigava a redação, gerência e oficinas, ficava na rua Siqueira Campos, 430. O exemplar avulso custava um cruzeiro. ados 70 anos, o jornal ainda tem um ar moderno. Era bem feito para os padrões da época e considerando os recursos (e as limitações) da imprensa fora das capitais.
Havia uma preocupação em registrar os fatos mais importantes da vida local e tomar posição editorial e política, além de buscar a constante renovação. No número 34, sob o título do jornal, surgiu o dístico: “jornal do povo a serviço da região”. Já no número 40, no alto da primeira página, antes do título, foi introduzida uma frase: “...Os que não quiserem apodrecer à beira do caminho, roídos pelos corvos da intriga, dos interesses imediatistas das paixões subalternas, que venham conosco”.
A Gráfica Baixo Amazonas Ltda., que editava o jornal, ou também a vender livros, pelo preço da capa. Em outubro de 1953 oferecia, dentre outros títulos, A Rua das Vaidades, As Ligações Perigosas, O Grande Pescador, Os Deuses Riem, Eu Soube Amar, Uma Aventura nos Trópicos, Tudo Isto e o Céu Também, A Exilada, A Vida de Jesus, Mulher Imortal, Fugitiva, Cidadela, O Sol é Minha Ruína, O Lago do Amor, Abismo, Eles Esperam Hitler.
Já no primeiro número a direção do jornal informou que estava tentando comprar uma linotipo no sul do país para que o Baixo Amazonas pudesse ter circulação diária, além de habilitar sua gráfica a prestar serviços ao público.
Não houve espaço para publicar todas as colaborações recebidas. Até a continuação de uma entrevista com o comerciante Antônio Brito ficou para a edição seguinte.
Foi este o editorial do primeiro número, na primeira página da edição de 13 de maio de 1952:
Ao dar à circulação o primeiro número deste semanário, que tem o nome da região a que se destina servir e é homônimo de um outro órgão da imprensa, que se editou nesta cidade entre os anos de 1872 e 1894, não sopesamos, antes temos bem auferida, a responsabilidade que nos impusemos e vimos assumir, perante o público do Baixo Amazonas, de realizar e cumprir um programa de trabalho que se identifique com os interesses coletivos deste trecho do Brasil, à defesa dos quais nos devotaremos sem avareza de esforços, sem descanso, indormidos e atentos, com destemor, crescente entusiasmo e absoluta fidelidade à causa pública.
Em satisfação desses propósitos, seremos apartidários e independentes, sobrepondo sempre às conveniências de quaisquer grupos os interesses da comunidade.
Jamais recusaremos a nossa colaboração à istração pública, que há de sempre contar com o nosso apoio às iniciativas úteis, com o nosso estímulo e concurso à realização de serviços e obras que afinem com os anseios, as necessidades e os reclamos do povo, a cujo bem-estar é de sua missão prover, colaboração que, segundo as circunstâncias, poderá, muitas vezes, se refletir através de uma crítica serena aos equívocos e desacertos dos es ou de advertências e ponderações aos seus atos menos condizentes com os interesses comunais; e, outras vezes, consubstanciar-se em avisos, apelos, indicações, esclarecimentos e estudos sobre providências reclamadas pelo bem público e pelo progresso das cidades e municípios do Baixo Amazonas, e ainda, quando necessário, em combate enérgico a medidas que se oponham ou sejam prejudiciais à coletividade.
Eis o nosso programa.
Como fonte de coragem e norma disciplinadora de nossas atitudes, teremos sempre presentes as seguintes palavras com que o preclaro Presidente Vargas, em certa ocasião, definiu o jornalista: “Entendida, como deve ser, a profissão de jornalista confina com o exercício de um sacerdócio”.
Primeira edição do jornal.
1ª página:
Editorial: O Baixo-Amazonas.
Matéria sobre o aniversário do bispo, d. Floriano Lowenau.
Reportagem de A. Barros: “Quando será reconhecido o valor indiscutível do trabalhador da Amazônia?”, é o título.
Artigo de A. Dolores: “Do sonho à realidade”.
Notícia: “Promoções” (sobre a promoção funcionar de Joaquim Cezar de Paes Barreto e Vitor Murrieta, gerente e contador da agência do Banco de Crédito da Amazônia, respectivamente.
Notícia sobre a inauguração das novas instalações de Alto-Falantes Ipiranga.
Notícia sobre a assembleia-geral da Tecejuta.
2ª página:
Notas católicas.
Despedida de casal.
Matéria sobre o futebol santareno.
Notícia sobre a chegada da planta da futura fábrica de fiação e tecelagem de juta.
Nota sobre o favorecimento na compra de lenha pela prefeitura para a usina de energia.
Mensagem de Osvaldo de Oliveira sobre o novo jornal.
Nota sobre o falecimento da professora Agripina de Matos.
Entrevista com Antônio Brito.
3ª página: só anúncios.
4ª página:
Reprodução da entrevista do presidente do Banco de Crédito da Amazônia, Gabriel Hermes Filho.
Mensagem de Haroldo da Cunha Franco: “Para o alto ‘Baixo Amazonas’”.
Noticiário de agência.
Coluna de Wilson Fonseca sobre música.
Nota sobre a intenção de comprar uma linotipo.
Saudação ao jornal pelo padre Manuel Albuquerque.
Anúncios:
L. G. Tuji & Cia. (o segundo maior, meia página)
Casa Moraes
Caixa Econômica
Lóide Aereo
Estatuto da Igreja Batista de Santarém (o maior: ¾ de página)
Hotel Oriente