As previsões do poeta Emir Bemerguy 6b64z
O poeta e escritor Emir Bemerguy faria nesta data 90 anos -
Créditos: Arquivo/Balaio Santareno
O poeta Emir Bemerguy faria hoje, 4 de março, 90 anos. Escreveu há 52 anos, em 1971, entre suas inúmeras crônicas, uma em que fazia previsões para a Santarém do futuro, o ainda distante ano 2000. O tempo, com suas armadilhas, nos coloca em 2023 em uma cidade que não é nem a de 1971, nem a do ano 2000, embora o poeta tenha feito alguns acertos.
De acordo com publicação da Província do Pará de março de 1975, que está no arquivo “Balaio Santareno”, montado por Emir, o prefeito à época, Oswaldo Aliverti, enviou para a Câmara Municipal o Plano de Desenvolvimento Urbano de Santarém com planejamento voltado para a explosão demográfica causada pelo corredor de exportação criado com a Santarém-Cuiabá. O PDU previu o zoneamento urbano, com criação de áreas industriais, comerciais, residenciais e paisagísticas. O plano era chegar ao ano 2000 com a cidade organizada em termos de meio ambiente urbano, dando à população condições de se superar, “num verdadeiro processo de promoção humana”.
Mas antes, em 1971, Emir escreveu uma crônica para o programa da Festa de Nossa Senhora da Conceição, com projeções para a Santarém do ano 2000. Com base na sua própria fantasia e pesquisas, ele adverte que as reações serão “contraditórias como a própria natureza humana”. E pede que o texto seja guardado com carinho para comprovar, no futuro, o quanto foi subestimado o desenvolvimento da cidade.
Em relação ao número de habitantes, ele se apegou nas estatísticas da década de 70, com a construção das rodovias e do porto, e previu a cidade com 800 mil habitantes no ano 2000. Os banhos de praia ficariam cada vez mais longe do centro urbano, mas os igarapés seriam preservados, com sofisticados balneários. A cultura e educação teriam evoluído, com entidades científicas, auditórios, um suntuoso teatro, bibliotecas, editoras e fábricas de discos. E no sonho de poeta, não faltaria um Museu da Imagem e do Som.
Com o aumento do número de veículos, haveria até 200 mil automóveis, ruas seriam alargadas, o morro da Fortaleza demolido. Seriam criados bairros residenciais e industriais, abertos viadutos e autoestradas, e “quem pode negá-lo? o próprio metrô”, previu. O porto ampliado, “em turbilhante vaivém, todo um mundo fantástico de riquezas exportadas e importadas”, vislumbrou Emir.E previu também os problemas, com grande chegada de “forasteiros”, falta de moradias, de empregos, de rede de esgotos, e o aumento da criminalidade, da poluição do ar. Teria acertado ou sido pessimista, o poeta?
Ele encerra o artigo com “as palavras eternais de Cristo e aplicando-as às presentes circunstâncias: Em verdade nós vos dizemos que não ará esta geração sem que tudo isto aconteça!”.
Fico a pensar o que diria ele, vendo a cidade em 2023. Seriam repetidos versos escritos em 1987? “A cidade mudou tanto, que em toda parte eu me espanto com a falta de critério. Destruiu-se um patrimônio, preferiu-se um pandemônio, que não leva nada a sério!”.
Mas, com certeza, também reafirmaria seu amor por uma linda cidade, o seu sonho predileto: “Eu sinto n’alma o mesmo intenso afeto, que te transforma, ó linda Santarém, do Tapajós, o sonho predileto e do Amazonas, o querido bem!”.
*Lila Bemerguy, com informações do arquivo Balaio Santareno.