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Morte de Líbia: Inquérito tem lacunas e deixa margem para guerra de versões sobre culpados 616u61

Portal OESTADONET - 04/03/2023

No alto, imagem dos veículos emparelhados, em seguida, carro dirigido por Jussara já com Líbia sobre o capô - Créditos: Reprodução/Inquérito

O Portal OESTADONET torna público trechos inéditos do inquérito policial que apura a morte da jovem Líbia Tavares dos Santos, arremessada do capô do carro pela motorista Jussara Nadiny Cardoso Paixão, na madrugada da última quarta-feira (22), em Santarém, no oeste do Pará. O inquérito foi concluído pelo delegado do caso, William Richer, e encaminhado para o Ministério Público do Estado (MPPA), que decidirá pela tipificação do crime e oferecerá denúncia à Justiça na semana que vem. 

 

Jussara Nadiny Cardoso Paixão foi indiciada por lesão corporal grave seguida de morte. O delegado também aponta como ório o crime de trânsito. Ela está presa desde o dia do crime no Centro de Recuperação Agrícola 'Silvio Hall de Moura', em Cucurunã. Em um primeiro momento, o indiciamento dela se deu por homicídio doloso, quando há a intenção de matar.

 

Conforme apurou o Portal OESTADONET com base no inquérito policial, os depoimentos das testemunhas, amigos e irmã de Líbia Tavares, divergem da versão apresentada por Jussara. 

 

O caso tem muitas lacunas a serem preenchidas e dúvidas que ainda precisam ser melhores esclarecidas. Uma dessas dúvidas é o intervalo do tempo em que vítima e suspeita tiveram para se reencontrar após a saída do bar, onde supostamente a confusão entre elas teve origem. 

 

Em um dos vídeos juntados aos processo, mostram que os veículos em que estavam Jussara Nadiny e Líbia Tavares tomam rumos diferentes. Mas voltam a se reencontrar no outro lado da cidade, justamente no local onde ocorreu a morte de Líbia: na avenida Sérgio Henn no cruzamento com a rua Palhão, no bairro Diamantino, próximo ao Hospital Regional. 

 

Relle Jhones Milhomen de Alencar, amigo de Líbia, em depoimento no dia 22 de fevereiro, às 05h16, contou que encontrou Líbia na avenida Anysio Chaves, onde estava ocorrendo um evento carnavalesco. Eles consumiram bebida alcóolica e de lá foram para o bar Fuleiragem e que ficaram neste local por pouco tempo. 

 

A testemunha disse que viu Jussara do lado de fora do bar, dentro do veículo. Nesse instante, Jussara e Líbia trocaram xingamentos. A vítima não contou o motivo da briga entre as mulheres. 

 

Segundo ele, depois que encerrou o evento no bar, eles decidiram ir embora: Relle, Líbia e sua irmã, Késia. Ainda segundo esse depoimento, quando eles chegaram próximo ao Hospital Regional, o veículo Onix, de cor vinho, conduzido por Jussara, ficou ao lado do seu veículo. Foi então, que Jussara começou a gesticular de forma agressiva, como se estivesse xingando Líbia. Esta, por sua vez, saiu do veículo e se dirigiu para a frente do carro de Jussara. 

 

Relle contou ainda que ele e a irmã de Líbia entraram no veículo para acompanhar o carro de Jussara. 

 

No depoimento dele, Relle afirma que a acusada acelerou o veículo de forma rápida, tento Líbia segurado no capô e conduzida por alguns metros até que Jussara freou e a vítima caiu, batendo a cabeça no chão. 

 

A testemunha Jaqueline Milhomen de Alencar, amiga de Líbia e irmã de Relle, também prestou depoimento à policia e ratificou a versão dada por Relle. O depoimento dela ocorreu por volta das 05h27. Além de acrescentar que no bar Fuleiragem, o namorado de Jussara, que era ex-namorado da vítima, chegou sozinho ao local onde estava e cumprimentou Líbia. Ela conta que quando Jussava estava indo embora com o namorado, jogou bebida na vítima, porém, acertou a irmã de Líbia, a Késia. 

 

Jaqueline narra exatamente a versão contada pelo irmão, Relle sobre o que ocorreu depois que eles saíram do bar e os veículos voltaram a se reencontrar já na avenida Sérgio Henn. 

 

Késia Tavares dos Santos, irmã de Líbia, também prestou depoimento e afirmou que por volta das 00h22 estava com a irmã no bar Fuleiragem. Ela confirma que Jussara estava no local e ou por ela fazendo provocações. Ainda no bar, Késia e Líbia aram por Wesley Marinho e disseram para ele que Jussara estava provocando as duas irmãs.

 

De acordo com Késia, Jussara e Wesley saíram do bar de carro, sendo que Wesley estava ao volante do carro. O casal ou próximo a Késia e Líbia, neste momento, Jussara baixou o vidro do veículo e jogou bebida na direção das irmãs. Após esse episódio, Wesley acelerou bruscamente o carro. Ato contínuo: Wesley retornou ao local, sendo que Jussara jogou outro líquido nas ruas, desta vez, água, que atingiu apenas Késia. 

 

A irmã de Líbia contou em depoimento que elas saíram do bar no carro de Relle e que a intenção delas, era irem para casa. Porém, no caminho, um colega enviou uma mensagem dizendo 'me pegaram', referindo-se que havia sido agredido fisicamente.

 

Késia e Líbia, então, deduziram que entre as pessoas que agrediram o colega, estava Wesley, Jussara e outras pessoas. 

 

Por esse motivo, elas decidiram ir até à casa de Wesley, que fica na avenida Moaçara, próximo à Ulbra. Na casa de Wesley, segundo Késia, ninguém atendeu. Elas então retornaram para o carro de Relle. 

 

Já no cruzamento das avenidas Moaçara e Sérgio Henn, ela observou um veículo vermelho, o mesmo em que estava Wesley, quando este deixou o bar Fuleiragem, seguindo o carro de Relle. Késia então viu que quem estava dirigindo era Jussara e que esta ou a gritar com elas. A testemunha disse que os dois veículos param na rua em frente ao Hospital Regional. Neste momento, ela e a irmã, desceram do carro, sendo que Líbia se aproximou de Jussara e começou a discutir com ela. 

 

Késia disse que Líbia ficou em frente do carro de Jussara, pedindo para esta sair de dentro do veículo. Porém, afirma, Jussara acelerou o carro e com o impacto, Líbia foi para cima do capô do carro de Jussara. Ela se agarrou ao para-brisa e Jussara acelerou até a rua Palhão.

 

Késia e os amigos seguiram atrás, no carro de Relle, e quando chegaram ao local encontraram Líbia caída ao chão, com muito sangue. No local havia várias pessoas e Jussara permaneceu no interior do veículo.

 

A testemunha conta ainda que ela e os amigos cercaram o carro de Jussara e retiraram a chave do veículo. 

 

Ao final de seu depoimento, Késia destacou que Wesley Marinho é proprietário de uma gráfica situada na Moaçara próximo à Sérgio Henn. Além disso, informou que havia câmeras de vigilância  no local onde Líbia caiu, mais precisamente na 'Casa de Carnes'.

 

Vídeos juntados ao inquérito policial mostram as cenas relatadas pelas testemunhas do momento em que Líbia aparece sobre o capô do veículo de Jussara até a queda na esquina da rua Palhão.

 

Às 05h10 do dia 22 de fevereiro, Jussara Nadiny Cardoso Paixão prestou depoimento ao delegado Wiliam Richer. Porém, na presença de advogada, ela decidiu permanecer calada. 

 

No dia 24 de fevereiro, Wesley Marinho prestou depoimento e confirmou a versão das testemunhas Késia, Relle e Jaqueline sobre a confusão no bar Fuleiragem. Mas, na sua versão, ele diz que Jussara teria sido provocada primeiro por Líbia e a irmã. Ele diz que Jussara falou pra ele que jogaram bebida nela. 

 

Ele confirma também que pegou a direção do veículo de Jussara para irem embora do bar. No caminho, ela avista Késia e Líbia e atira um copo com bebida em direção às irmãs, acertando, porém, somente Késia.

 

Ele então deu a volta, pois Jussaram queria ver se o copo teria acertado alguma das meninas. Depois disse, ele conduziu o veículo até sua residência e lá ficou. Alguns minutos depois, Jussara liga dizendo que 'a menina que estava em cima do carro, caiu'. 

 

O gerente do bar Fuleiragem, Manoel Dantas Filho, em depoimento, também confirma que viu o momento em que o carro de Jussara a pelas irmãs e um copo é atirado em direção à vítima e Késia. 

 

Ele conta que nas imagens do bar viu que o veículo de Jussara ou diversas vezes aoo lado do grupo que a vítima estava, 'puxando' um atrito com a vítima. Ele afirmou em depoimento que o veículo de Jussara, inclusive, andou na contramão para chegar próximo ao grupo onde estava a vítima. Após esses fatos, a vítima e os amigos foram embora. Mas novamente o carro de Jussara ou novamente na contramão para, possivelmente encontrar o grupo onde estava Líbia. 


Ainda segundo esse depoimento, por volta de 05h15, o veículo Onix, da cor vinho, ou novamente em frente ao bar, devagar, como se estivesse procurando por alguém, pois ou próximo da calçada e não no meio-fio da rua.

 

O barman do bar Fuleiragem, Alex Rodrigues Baez, em depoimento no dia 24 de fevereiro, também afirmou que viu a mulher que estava no veículo Onix, cor vinho, ar próximo de Líbia e atirar um líquido nela e nas pessoas que estavam próximas. 

 

Ele também confirmou a versão do gerente do bar de que o veículo ou várias vezes pelo local.

 

No dia 25 de fevereiro, Jussara Nadiny prestou depoimento ao delegado William Richer. 


A acusada contou que no dia 21 de fevereiro combinou com Wesley de sair para comer um lanche. Depois aram em um bar chamado 'Santo Gole' e em seguida foram para o bar Fuleiragem.
Ela disse que quando foi ao banheiro do bar encontrou com Késia e esta jogou bebida em seu rosto. Jussara confirma que revidou jogando bebida na vítima e na irmã dela. Não satisfeita, ela pediu para o namorado voltar, ainda que na contramão, para jogar uma garrafa de água. Mas, como não viu ninguém, decidiu ir embora.

 

Depois de deixar Wesley na casa dele, na Moaçara, Jussara conta que foi até uma lanchonete pegar sanduiches para comer com o namorado que, por sua vez, teria ligado para dizer que não queria mais o lanche. 

 

Na lanchonete, ela teria sido informada que a roupa dela estaria suja e por esse motivo decidiu ir embora. Durante o trajeto, ela pegou a avenida Sérgio Henn e viu um Fox da cor prata e se deparou com Késia e Líbia e que estas teriam começado a xinga-la. 

 

Ela então ladeou o carro com o Foz, reduzindo a velocidade e ficou parada. Foi quando Líbia desceu e foi para a frente do veículo e que teria se debruçado sobre o capô. Foi então que ela acelerou um pouco, mas não adiantou e Líbia então subiu no capô para agredi-la. 

 

Ela contou que ficou nervosa e por isso acelerou. Ela disse ter acelerado para que Késia e Líbia não a agredissem. 

 

Para a polícia ficou claro que Jussara e Líbia tinham conflitos e desentendimentos por causa de Wesley. 

 

Uma das lacunas que ainda não foi esclarecida é o trajeto entre a saída do bar Fuleiragem ao local onde Líbia morreu.

 

No relatório da polícia, um trecho chama a atenção: 

 

"Após deixá-lo (Wesley) em casa, Jussara alega que foi lanchar na lanchonete 'Ei, Psiu', e ao retornar para sua residência pela avenida Sérgio Henn, deparou-se com o veículo onde as outras mulheres estavam e decidiu retornar com as ofensas. Porém, a referida lanchonete localiza-se em sentido e altura contrária da avenida Sérgio Henn indo em desencontro com o sentido em que os carros ficaram ladeados. No depoimento de Jussara, a mesma informa que residente no Residencial Salvação, ou seja, o trajeto percorrido não vem de encontro com a localização do atropelamento. Diante de tais contradições, supõe-se que Jussara e Líbia já tinham predeterminado onde iriam se encontrar para continuar as ofensas, pois seria muita coincidência encontrar o desafeto às 02h30 em um local bem distante de onde estavam anteriormente (bar Fuleiragem, bairro Prainha), na qual todos que estavam com Relle ainda estavam no veículo, ou sejam estariam em um sentido bem oposto do bar, e nenhum dos indivíduos tinham sido deixado em casa (Késia reside no bairro Aparecida, Jaqueline e Relle na Nova república). E por coincidência, nas proximidades de Wesley (Diamantino)".




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