Memória de Santarém: O início do Ginásio Dom Amando 3p4x73
Francisco Uchoa Guerra integrou a primeira turma de alunos do Ginásio Dom Amando quase 80 anos atrás, em 1943. Sua presença foi especial. Ele excedeu o número de alunos internos previstos pela direção da primeira escola de ensino secundário (hoje, ensino médio) de Santarém. Mas teve sorte: um lugar extra foi providenciado e ele se tornou o 31º inquilino do internato de um total de 80 alunos (considerados os externos) que frequentariam o primeiro ano ginasial. Metade dos que se apresentaram como candidatos aos exames de seleção foram reprovados.
Como todos os demais internos, Guerra vinha do interior do Baixo-Amazonas. Eram jovens de Alenquer, Óbidos, Oriximiná, Juruti, Altamira, Belterra e Itaituba, no Pará, e Vila Amazônia, no vizinho Amazonas. Cabia-lhe ser o representante de Monte Alegre. Ia ter a oportunidade de participar da fundação de um ginásio que se tornaria lendário, fonte de formação da elite dirigente e intelectual da região. Muitos deles migraram para Belém e outras cidades do Brasil para fazer o curso superior e foram bem-sucedidos, graças ao nível de ensino, estabelecido inicialmente pelos padres alemães, continuado – e modificado – pelos irmãos seculares dos Est ados Unidos.
Parte do livro que Francisco Guerra publicou, em 2007 (Uma Nova Vida), o último de uma trilogia que começou a escrever ao se aposentar como engenheiro florestal, depois de intensa vida pública, foi dedicado a reconstituir sua formação acadêmica e profissional. O livro assumiu a forma de romance histórico, mas se inspirou em fatos reais, mudando apenas os nomes de alguns personagens (o autor mal se oculta como Fran).
Por isso, é um documento precioso e único, que merece ser lido pelos interessados na história santarena. O cuidado do autor com os detalhes e sua invejável memória respondem pela qualidade da obra.
Paisagem bucólica
Na época de sua fundação, o Dom Amando ocupava uma área muito grande, quase comoz ona rural. A colina era “coberta por capim rasteiro, no qual abundavam todo o tipo de pombas silvestres, comendo pedrinhas e sementes das gramíneas”. Em torno dela havia mata “densa e grande, que se estendia ‘pelo que a vista dava’; na lateral esquerda a mata vinha até ao portão de entrada pela Av. S. Sebastião. Por trás era urbano em área de mata, com clima de serra e temperatura amena”.
No final do terreno havia então um estábulo “com plantel de gado holandês com cinco vacas com crias e um touro, que, além de ser responsável pela renovação do plantel, puxava a carroça que atendia as compras do Ginásio, as necessidades do estábulo e, ainda, servia de trator para arrancar troncos de árvores na limpeza das áreas, destinadas às diversas modalidades”.