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Há 94 anos, nascia Elias Pinto n4t4g

Lúcio Flávio Pinto - 31/07/2019

Se vivo fosse, meu pai, Elias Ribeiro Pinto, teria completado, hoje, 94 anos. Morreu aos 60, no natal de 1985. Esta foto, de 1967, quando ele tinha 41 anos, assinala o momento pelo qual ele mais sonhou na sua vida pública: ser prefeito de Santarém.

 

Realizar essa aspiração foi muito difícil. Perdeu as eleições de 1958 e 1962, presididas pelo juiz Manoel Cacela Alves, integrante da elite local. Papai se disse vítima de mapismo, que violava, na apuração dos votos, a vontade que o povo manifestava nas urnas.

 

Não se trata de queixa de mero perdedor. Conseguiu a 6ª maior votação como candidato a deputado estadual, em 1954, pelo PTB, o mais votado da região do Baixo Amazonas. Na eleição municipal de novembro de 1966, recebeu 8.337 votos contra 5.964 dados ao engenheiro Ubaldo Corrêa, diferença de 2.373 votos, em 14.341 válidos (mais de 57% do total). Foi uma das maiores vitórias eleitorais da história de Santarém. Cacela tinha sido removido então para a capital, onde chegou a desembargador.

 

A importância do resultado cresce por uma circunstância: Elias Pinto foi o primeiro filho dos milhares de imigrantes cearenses, expulsos de sua terra natal pelas secas e atraídos para praticar a agricultura no planalto, ainda hostil e menosprezado pelos moradores tradicionais. Os cearenses eram estigmatizados como os “arigós”, tratados como inferiores, embora fossem os principais fornecedores de alimentos para a cidade.

 

Apesar da ampla maioria que obteve na disputa principal, o MDB, o partido de oposição ao regime militar, só fez três dos 12 vereadores em Santarém. Os nove da Arena não foram à solenidade de posse, à qual só estavam presentes 19 pessoas, incluindo um dos personagens mais populares e importantes da época, o bispo Thiago Ryan, americano de origem.

 

A conspiração contra o prefeito oposicionista começou imediatamente. Ele exerceu o mandato por um tempo inferior ao de uma gestação, de nove meses. Foi afastado do cargo, a pretexto de irregularidades istrativas, perseguido e cassado, menos de três meses antes da edição do AI-5, em dezembro de 1968, num prelúdio dos tempos sombrios que baixariam de vez sobre o Brasil.

 

Santarém se tornou área de segurança nacional, perdendo sua autonomia política, depois que 150 homens da Polícia Militar investiram contra quase cinco mil pessoas, numa eata que pretendia levar o prefeito de volta ao cargo, com base em uma decisão judicial. Três manifestantes foram mortos a bala pela PM, deslocada a mando do governador Alacid Nunes, que nunca absorveu a vergonhosa – para ele – derrota. Cobrou em sangue a ousadia.

 

 

 

O povo que teve a sua vontade violada pelo mapismo e não foi à posse solene, ocupou as ruas de Santarém para saudar o único político de oposição a impor uma grande derrota ao regime militar no Pará em 1966, enfrentando uma poderosa coalizão no Estado.

 

 

Oficialmente a praça era dos Três Poderes, reduzindo-os, porém, às forças armadas. Mas os soldados foram tão caricatamente modelados nas esculturas de Laurimar que o povo ou a tratá-la como a praça dos três patetas, uma forma burlesca de criticar o poder militar, que privou os santarenos de escolher seus prefeitos durante duas décadas, substituídos por interventores, nomeados pelo governador.

 

 

 

Recentemente a praça ou a se chamar Elias Ribeiro Pinto, no bairro da Prainha. A homenagem ficaria melhor na Aldeia, o local dos excluídos pela sociedade dominante: os índios tapajó, os pobres e os “arigós”. Era onde morava a família do homenageado, chefiada por Raimundo Pinto, um autêntico sertanejo. Elias, com 19 anos, foi um dos fundadores do São Raimundo Esporte Clube, o mais popular da cidade, em 1944.




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